quinta-feira, 24 de abril de 2014

Portugal na Guerra Peninsular

Dezembro de 1808
[No final de 1808 foram criadas as seguintes forças em Portugal]

Batalhões de Caçadores
[6 batalhões, 628 praças cada (Outubro de 1808) com 5 Companhias, sendo uma de atiradores de elite]

1º No Outono de 1808 Portugal não tinha nenhuma tropa ligeira porque a maioria dos antigos membros da Divisão Ligeira estavam incorporados na Legião Portuguesa; estas forças iriam adquirir enorme reputação como forças de elite no decorrer das seguintes campanhas peninsulares; tinham espingardas mais curtas do que a infantaria normal, usando alguns a carabina estriada “Baker” inglesa e em vez da baioneta usavam um sabre pequeno.

Regimentos de Infantaria
[24 regimentos, 1.550 homens cada um, com 2 Batalhões a 10 Companhias (8 de fuzileiros, 1 de granadeiros e 1 de atiradores)]

1º No final do ano contabilizavam se 21.094 homens com apenas 19.113 armas e 6.912 uniformes; a espingarda era de fecho de pederneira e provinha de várias origens, sendo a maioria do modelo inglês “Brown Bess” de calibre 20mm.

Regimentos de Cavalaria
[12 regimentos, 594 homens cada um, com 4 esquadrões de 2 Companhias]

1º Em Dezembro de 1808 a Cavalaria contava com 3.641 homens, 2.617 cavalos e apenas 629 uniformes; iam armados de espada direita cuja lâmina pesava 1,5 Kg, carabina e pistola.

Regimentos de Artilharia
[4 regimentos, 3.918 homens, 3.564 mosquetes e 3.416 uniformes (o que estava bastante melhor do que nas restantes armas)]

1º As peças foram as possíveis de serem retiradas das praças-fortes e transportadas para o campo como primeiro passo no rearmamento dos regimentos. Foi progressivamente aumentando o número das peças de bronze (3,6 e 9 libras) e obuses de 15cm.

Regimentos de Milícias
[48 regimentos, pos¬suindo quando completos 1.101 homens cada um]

1º Contabilizavam-se em Dezembro 52.848 homens e cada Regimento tinha 9 Companhias de Infantaria.

Ordenanças
[Companhias, de 240 homens cada, organizadas em 24 Brigadas, poderia atingir 1.536 Companhias]

1º Em todos os Domingos e dias santos para se exercitarem no uso das armas (que tivessem) e nas evoluções militares, só em Lisboa foram criadas 16 legiões divididas por distritos, cada com 3 Batalhões e cada Batalhão com 10 Companhias; como verdadeiros distritos de recrutamento calcula-se que as Orde¬nanças forneceram para as Milícias e para o Exército de primeira linha nos anos seguintes entre 60.000 a 70.000 militares.

Corpos de Voluntários
[Regra geral, nos seguintes anos foram absorvidos pelas Milícias como a legião de Transtagana, os Voluntários de Portalegre, Beja e Coimbra]

1º Em Lisboa dois corpos de Cavalaria e Infantaria destinados à guarnição e polícia da cidade denominados Voluntários Reais do Comércio da Cidade de Lisboa; no Porto também se criou um corpo igual.

2º Voluntários do Porto (herdeiros da Companhia de eclesiásticos do Porto de 1643) comandado pelo bispo com cerca de 600 frades e outros eclesiásticos organizados num “Regimento” a dois Batalhões

3º Corpo Académico Militar de Coimbra com as suas raízes na Restau¬ração constituído pelos alunos da Universidade tendo os professores como oficiais.

4º O Corpo de Privilegiados de Malta que juntava os membros da Ordem de Malta em Lisboa.

5º Leal Legião Lusitana (L.L.L.) patrocinado pela Grã-Bretanha e levantada a partir dos portugueses aí emigrados; era composta por 3 Batalhões de Caçadores com 10 Companhias cada num total de 2.300 homens e ainda uma Bateria de Artilharia com 4 peças e 2 obuses; quando em 20 de Abril de 1811 foram aumentados mais 6 Batalhões de Caçadores ao Exército Anglo Português foi pelo mesmo decreto desactivada a L.L.L.

Corpos Especiais

1º O Real Corpo de Engenheiros, com enorme tradição e prestígio no Exército Português, existiam cerca de 100 engenheiros militares em Portugal continental, 9 no Brasil, 1 na Índia e 1 em Angola; reorganizado em Novembro de 1808 passou a possuir uma estrutura com 8 Coronéis, 13 Tenentes-Coronéis, 27 Majores, 22 Capitães e 22 Tenentes mas apenas em 1812 foi acrescentado o Batalhão de Artífices destinado a fazer os trabalhos de engenharia.

2º O Arsenal Real que desde a Restauração produziu munições e mosquetes para o Exército recomeçou imediatamente a laborar após a saída dos franceses, com 33 oficiais, 50 mestres e cerca de 2.000 trabalhadores com uma clara prioridade na produção de peças de artilharia.

3º A Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho fundada em 1790, pela mesma época em que foi fundada a antecessora da Escola Naval, a Academia Real de Marinha (1779), reabriu logo após a saída dos franceses e foi fundamental na formação dos futuros oficiais do Exército.

4º As Tesourarias do Exército, os Víveres e o Serviço Médico, este último em 1808 muito mal organizado e que foi alvo de uma restruturação pelo Marechal Beresford em 1809.

Corpos de Informações e Segurança

1º O General Dom Miguel Pereira Forjaz, mantinha uma rede eficaz de informações em território espanhol coordenada pelo Director da Pasta Militar Joaquim José de Oliveira; havia Oficiais na Galiza, em Leão e Castela a Velha, Estremadura, Andaluzia e Astúrias; pagava-se a informadores a 1.000 reis por semana e estes “olhos de Portugal” eram de tão grande eficácia que nos anos seguintes Wellington fez todos os esforços para poder obter o comando deste corpo (“O Senhor Oliveira” como lhe chamava o Duque de Wellington).

2º O Corpo Telegráfico ficou famoso especialmente depois das célebres linhas de Torres Vedras em 1810; embora tenha sido criado no final de 1808 só começou a operar em 1809 construindo formidáveis linhas telegráficas entre as principais praças em Portugal, como Abrantes e Elvas, utilizando um eficaz sistema semafórico ou o célebre sistema naval de balões nas linhas de Torres Vedras.

3º Os Guias do Exército criados em 1806 iriam depois transformar-se, já em 1812, nos eficazes Guias Montados compostos por estrangeiros e voluntários da Universidade de Coimbra com conhecimentos de inglês e francês.

4º A Guarda Real de Polícia, com 1.000 Infantes e 229 Cavaleiros em Lisboa e um Esquadrão no Porto foram essenciais na manutenção da lei nestas cidades após 1808.

Corpos de Praças

1º Em cada praça principal existia o Governador (Oficial-General), um Major e um ajudante de campo que com as antigas organizações conhecidas como Pé de Castelo (cerca de 200 homens) asseguravam a disponibilidade das mesmas.

Forças nas Ilhas da Madeira e dos Açores

Madeira

1º Como importante ponto estratégico no controlo das principais rotas, os Britânicos (comandados pelo General Carr Beresford) reforçaram-nas tanto em 1801 como em 1807. Além das tropas britânicas destacamos o importante Grupo de Artilharia com as suas 6 Baterias.

Açores

1º Existia 1 Batalhão de Infantaria com 8 Companhias e uma importante milícia organizada em 3 Terços (regimentos) que totalizavam cerca de 3.000 homens.

Forças oriundas do continente

Brasil

1º Foi o território mais afectado pelas guerras napoleónicas. A importante colónia que obteria o estatuto de Reino Unido a Portugal tem, (com a presença de D. João VI), nos anos seguintes um programa de reformas que a colocarão com um aparelho militar dos mais evoluídos.

2º As 17 capitanias que existiam com o seu Capitão General e as tropas regulares e milícias debaixo do seu comando.

3º As forças de primeira linha cerca de 2/3 eram oriundas do continente e além do envio de homens também existiam unidades completas mobilizadas para o Brasil como é o exemplo dos regimentos de Moura, Estremoz e Bragança (estes Regimentos, em conjunto com 2 Regimentos brasileiros e outras forças formavam a Guarda do Vice-Rei).

4º Foi deste território que partiu uma operação conjunta e combinada Anglo Portuguesa para conquistar a Guiana francesa.

5º Em Novembro de 1808 uma Armada Anglo Portuguesa (Os navios portugueses eram 2 bergantins, 1 escuna, 2 veleiros e 3 “gunboats”),  bloqueia a Capital, Cayene.

6º Em Dezembro uma força terrestre portuguesa de 1.200 homens comandada pelo Tenente-Coronel Marques de Sousa conquista Oyapoc.

7º Parte dessa força embarca nos navios e com 80 Royal Marines, conquistam a cidade de Cayene em 12 de Janeiro de 1809.

Moçambique

1º Existia 1 Regimento a 10 Companhias com cerca de 1.000 efectivos e uma Bateria de 100 homens; desde 1790 que houve vários ataques pelos corsários franceses e em 1797 houve um ataque de duas fragatas francesas a Lourenço Marques mas foi estabelecido um acordo entre os dois governadores e as tréguas mantiveram-se até ao final das guerras napoleónicas.

Angola

1º Existia 1 Regimento de Infantaria, 1 Grupo de Artilharia e 1 Esquadrão de Cavalaria.

Índia

1º Com o Vice-Rei que controlava os governadores de Macau, Timor e Moçambique, havia uma força bastante bem organizada com 2 Regimentos de Infantaria, 1 Regimento de Artilharia e a Legião dos Voluntários Reais com o total de 5.400 homens (mas dos quais apenas 1.200 eram europeus). Tal como na Madeira houve o reforço britânico em 1801 e 1807 e a partir de 1808 esteve um Batalhão Britânico de Bengala.

Macau

1º Tinha um destacamento do Regimento de Goa e tal como na Índia e Madeira assistiu-se à presença Britânica em 1801 e 1807, depois houve operações conjuntas da Armada Portuguesa com as Armadas da Grã-Bretanha e da China mas para combater piratas e não franceses.

São Tomé e Príncipe/Fernando Pó/Cabo Verde/Guiné-Bissau/Timor

1º Em todas existiam pequenas guarnições de Infantaria com Artilharia. Apenas se assistiu a pequenos episódios entre holandeses e britânicos junto a Timor mas que não ameaçaram os territórios portugueses.




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